Adolescentes internados no Cense I participam de oficina de grafite dentro da programação da Semana da Favela
Nelson Bortollin
‘Sempre fui sonhador’. ‘É isso que me mantém vivo’. As frases do rapper Mano Brown foram grafitadas por um grupo de seis internos na parede de uma das salas de aula/celas do Centro de Socioeducação I (Cense I), em Londrina.
A atividade, coordenada pelo grafiteiro Matheus Fernandes Moreira dos Santos, foi realizada na última quarta-feira (8), e fez parte da programação da Semana da Favela 2023, promovida pelo projeto Conexões Londrina, que executa as ações da Central Única das Favelas (CUFA) na região, em parceria com o aplicativo corre.social.
“Foi a primeira vez que eu fiz uma oficina numa instituição como essa. No começo, os meninos ficaram tímidos, até por causa das regras do lugar, mas depois foram participando e o resultado eu acho que foi muito bom. Eles também gostaram”, conta Matheus.
A Rede Lume acompanhou com exclusividade a oficina no Cense I, unidade de internação provisória para adolescentes que ainda aguardam sentença. Além do grafiteiro e do repórter da Lume, um professor de artes do Centro Estadual de Educação Básica para Jovens e Adultos (Ceebeja) acompanhou a atividade.
Antes de entrar na sala, o professor e o grafiteiro tiveram de mostrar ao agente socioeducativo no corredor todo o material que seria utilizado. Tesouras sem ponta foram contadas. A direção pediu para o repórter deixar o celular de fora com a condição de recebê-lo na sala, na hora de tirar as fotos que ilustram essa matéria.
Nem internos nem o professor puderam ser entrevistados. A direção explicou que isso seria permitido caso a Lume tivesse pedido autorização com antecedência, o que não havia sido feito. A reportagem conversou com o grafiteiro no dia seguinte à atividade.
Todo mundo dentro da pequena sala e porta de ferro trancada, os meninos foram orientados a não escrever nenhuma apologia ao crime. O recado nem seria necessário, uma vez que o grafiteiro levou frases de rappers para os internos escolherem.
O clima era de desânimo total. Parecia que a atividade estava fadada a dar em nada. Matheus teve de escolher a frase diante da apatia dos meninos. Mas aos poucos, eles foram começando a ajudar o grafiteiro a montar o estêncil da frase, recortando letra por letra. O clima começou a descontrair e a conversa passou a fluir. “No final, acho que, se pudessem, eles ficariam bem mais tempo lá. O grafite tem a linguagem do povo excluído. E eles se identificam com isso”, diz Matheus.
Na manhã daquele dia, um outro grupo de internos havia grafitado na parede de outra sala uma frase da escritora negra Carolina Maria de Jesus: “Quem não tem amigo mas tem um livro tem uma estrada.”
Na véspera, Matheus havia feito oficinas no Cense II, unidade para adolescentes já sentenciados.
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