No Dia da Consciência Negra, trazemos cobertura da Mostra na escola municipal Zumbi dos Palmares e suas inúmeras simbologias

Por Lua Gomes*

No último sábado, dia 18, aconteceu na Escola Municipal Zumbi dos Palmares, na zona sul de Londrina, a Mostra de trabalhos desenvolvidos pelos estudantes que, a exemplo da mostra municipal (Londrina Mais), foi intitulada de Zumbi Mais.

O evento tinha como eixo central a diversidade cultural e executou com maestria: a equipe da escola organizou os trabalhos como verdadeiros profissionais de curadoria e ficou muito organizada a leitura das produções. Foram apresentados eixos de cultura e pluralidade, diversidade racial, multiplicidade cultural, a influência da economia na produção de cultura, o marco do café na cultura brasileira e de formação da nossa região…

De fato, era rico, diverso, criativo e potente. Mostrando a força do trabalho coletivo daquela equipe escolar, como relata com muito orgulho a vice-diretora Raquel Mafra.

“Nós temos uma equipe maravilhosa e o trabalho aqui é tão especial porque essa comunidade escolar nos acolheu e dá força a cada projeto. Cada um dos colaboradores, desde a manutenção e infra-estrutura, com as equipes da limpeza, cozinha, gestão escolar, equipe pedagógica, famílias e os estudantes. Todos contribuem para os resultados tão lindos”, relata com emoção na voz.

A Mostra contou com resultados artísticos, de iniciativas internas, como as oficinas de leitura e produção textual oral, pensando na sustentabilidade, conforme conta a professora Celiane Burity, que compõe a equipe docente há 8 anos.

“Eles criam as histórias através de seu próprio repertório criativo, suas vivências. Em muitos personagens e narrativas podemos perceber isso. A decisão de manter a produção como material narrado foi importante para manter a originalidade e essência das produções, além de ser ainda mais inclusivo”, explica.

“Quando a professora falou eu não tinha ideia do que fazer, mas como assisto muito desenho, pensei em fazer falando das relações de amizade, como nos desenhos. A mensagem da história é que nem sempre você precisa ter inveja de tudo”, conta Maria Júlia, estudante do 5º ano que produziu uma história a partir de uma folha seca de árvore, objeto proposto como ponto de partida da atividade de produção literária.

A professora mediadora Almerita de Paula comenta do diferencial da escola, com a promoção permanente de atividades aos sábados, quando a escola fica disponível para atividades integradas à comunidade, a fim de aumentar o pertencimento e o vínculo.

Assista matéria em vídeo abaixo:

O sucesso da atividade também decorre da realização de parcerias, a exemplo de uma entre a Secretaria Municipal de Educação com o Sebrae, que estimula a produção de produtos artesanais e o desenvolvimento de competências empreendedoras. A produção de itens como quadros, itens de decoração, sacolas retornáveis e artigos cosméticos pelas turmas participantes nas atividades, todos com a identidade ímpar da produção que destaca o estudante como protagonista.

A Mostra entregou muito. Desde a imagética criada, a valorização daquelas crianças e comunidade, a apresentação da identidade local, a oralidade literária como processo rico na transmissão genuína de ideias e sobretudo o protagonismo das crianças em toda construção.

ZUMBI+ congrega muitos pontos a refletir. A escola carrega um nome historicamente potente, Zumbi dos Palmares, que é símbolo de lutas e resistência; inserida num território periférico e vulnerável como o União da Vitória, que teve ressaltado em todos os relatos ouvidos, em cada conversa na construção desse material jornalístico; a potência participativa e integradora dessa comunidade (isso, caros leitores, é alma quilombola!); aconteceu no dia 18 de novembro, dia nacional de combate ao racismo; e publicado dia 20, dia em memória a Zumbi e Dia da Consciencia Negra.

Nem tudo está perfeito, pois a estrutura da escola precisa de maior investimento público – e com urgência, para entregar àquela comunidade escolar a merecida devolutiva de sua integração na formação das crianças.

O trabalho desenvolvido na Zumbi é lindo e que seja replicado em outras escolas periféricas pra ontem e, sobretudo, que seja perene. E nesse 20 de novembro, que a consciência negra seja reproduzida e multiplicada dia após dia, para que cada vez menos, o racismo seja o cerne de relações em nossa sociedade. Por mais educação de qualidade e eventos e belas histórias para contar!

*Lua Gomes, ativista social e de favela, gestora do Conexões Londrina, liderança regional da CUFA e aventureira com as palavras.

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