Evento dos coletivos Ciranda da Paz e Yá Mukumby trabalha a temática racial em prol do aquilombamento para além do Dia da Consciência Negra
Da Redação
Com entrevistas e fotos de Filipe Barbosa
Na tarde do último sábado (18) a pracinha do bairro Nossa Senhora da Paz, conhecido como favela da Bratac, na zona Oeste de Londrina, foi palco de brincadeiras, danças, exibição de filme, contação de histórias e cantinho da beleza, tudo com a temática africana. Era a segunda edição do evento Zumbi Vive, pensado para promover o aquilombamento na periferia e levar a temática racial, especialmente para as crianças.
Promovido pelo Coletivo Negro Dona Vilma Yá Mukumby em parceria com o Ciranda da Paz, nesta edição o Zumbi Vive também contou com participação do Festival Kinoarte de Cinema. Bruna Moura, cogestora do ‘Ciranda’ e integrante do coletivo Yá Mukumby, explica que a parceria entre os dois movimentos teve início em 2019, com a realização de oficinas durante todo o ano, finalizando no Dia da Consciência Negra e Dia Nacional de Zumbi dos Palmares, celebrado em 20 de novembro.
“É justamente para a temática racial chegar na periferia, onde a maioria é negra. Para as pessoas terem essa consciência sobre a questão racial não somente em um dia, mas todo o ano. No período da pandemia a gente parou um pouco e agora estamos retomando”, explica.
O sentido de comunidade pauta as ações dos dois coletivos.“A gente sempre visa um fortalecimento comunitário, onde o próprio sujeito se reconhece como transformador social. E trazer isso justamente para as crianças poderem refletir e terem um espaço para falar de suas questões raciais, porque às vezes elas sentem, mas não sabem nomear que determinada atitude é racista. Tendo essas pequenas ações do cotidiano a gente consegue criar sujeitos mais autônomos para o enfrentamento, porque, querendo ou não, todo mundo que mora na periferias enfrenta de alguma forma”.
O Zumbi Vive marca, portanto, ações feitas ao longo de todo o ano com essa comunidade, promovendo o aquilombamento por meio da valorização da cultura afro-brasileira.
A trancista Lucely dos Santos Souza também integra o Ciranda da Paz e o Coletivo Negro Dona Vilma Yá Mukumby. Ela explica como a valorização da estética contribui para promover o empoderamento e a autoestima das crianças negras.“O racismo não vai acabar com esse evento, mas vai ciar nessas crianças e adolescentes outra perspectiva em entender essa luta racial, não de forma tão teorizada, mas através de brincadeiras africanas, contação de histórias… O problema do racismo não é do negro, é o branco que precisa se ver nesse lugar para poder acabar. Por isso não é só um dia, não só o 20 de novembro, mas todos os 365 dias que a gente precisa se aquilombar”, ressalta Bruna.
“Aprendi a fazer tranças com a minha avó. Acho muito importante a gente gostar do nosso cabelo preto natural, não ter que passar pelo processo de alisamento, e ver outras formas de usar ele também”, pontua.
Nadine Silva levou os filhos, que já participam das atividades do Ciranda da Paz, para o evento. “Para mim é motivo de alegria e satisfação pelo Ciranda da Paz, porque eles tiram as crianças da rua. Aqui eles aprendem teatro, artesanato, tudo sobre cultura”, fala.
Mariane foi uma das crianças que aproveitou o evento. “É muita bondade das pessoas fazer essa festa representando as pessoas negras, as pessoas da África, suas religiões, as brincadeiras. É muita coisa boa para as crianças da comunidade terem a oportunidade de fazer tranças de graça, brincar. Estou muito feliz hoje”, comemora.
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