Por Vinícius Fonseca
Ele acordou, era uma segunda-feira como qualquer outra. E como em qualquer dia útil, ele abriu os olhos e mesmo com todas as dores e limitações que suas condições físicas e mentais lhe impunham foi aos seus afazeres.
Trabalhar é necessário para que possa pagar os boletos. Muitas vezes por um salário que não paga as contas e menos ainda reconhece seus esforços anteriores, como a faculdade, ou os outros cursos de aprimoramento que fez.
Apesar de todas as dificuldades e o desejo de viver uma vida melhor, há pessoas que o encaram como alguém que não devia reclamar tanto, mas sim ser grato, pois ao menos tem emprego. Como se este fosse um ato de benevolência da parte do dono de uma empresa qualquer. Ou talvez como se sua deficiência fosse algo que atrapalhasse ele a ser bom, então, o que vier é digno de Graças.
Leia também: Opinião: Direitos Humanos são alvo de Trump em discurso de posse
Ídolos? Tem alguns, mas quase nenhum com o qual se identifique de um modo único ou especial. Não teve professores com deficiência, não se sente devidamente representado nos programas de televisão. Quanto muito celebra feitos de pessoas como ele, pessoas com deficiência. Mas não se engane, esses têm que ser feitos grandiosos.
É a pessoa em cadeira de rodas que já ganhou o prêmio mais importante da literatura nacional e teve um livro adaptado ao cinema, cujo filme vai concorrer o prêmio mais importante do cinema. São paratletas que aparecem a cada quatro anos, ganhando mais de 100 medalhas por edição de jogos olímpicos. Enfim, são pessoas que para ter o destaque devido parecem precisar se esforçar muito mais do que alguém tido como “normal”.
Ainda tem essa: precisa ouvir dos outros que para esse ou aquele é tido como normal, como se não tivesse deficiência. Oi? Isso por acaso é elogio? Quem disse que não queremos ser reconhecidos pela nossa deficiência?
Todas essas coisas, essas pequenas coisas o fazem questionar: para quem é que está reservado o direito de sonhar? Sonhar com um mundo em que a sua deficiência seja irrelevante aos olhos dos outros e a sua pessoa seja vista primeiro, ou, antes de qualquer limitação, aparente ou não.
Se o direito de sonhar está reservado a esse ou aquele, mas nunca aos que não se encaixam ao padrão imposto pela sociedade, então o que lhe resta?
Pois bem, terminar mais um dia de trabalho. Chegar em casa e se virar com afazeres domésticos. Tomar seu banho e dormir, porque em sua casa os sonhos são sonhos de verdade e não apenas desejos distantes.
Esse texto apresenta um personagem fictício, um humano sem nome, talvez invisível. Esse texto representa tantos e muitos que têm deficiência. Esse texto representa pessoas que todos os dias acordam em busca de dar o seu melhor à sociedade esperando que um dia essa acorde e os enxergue.
A palavra tem a exata força do símbolo que damos a ela. Essa crônica, se assim posso chamar o texto acima, é a força que espero dar a vocês. Sobretudo se você é uma pessoa com deficiência. Continue sonhando!
*Vinícius Fonseca é jornalista e tecnólogo em gestão de recursos humanos com especializações nas áreas de comunicação, gestão e pessoas e educação. Também é escritor de contos e poesia, além de um entusiasta das temáticas relacionadas à inclusão de minorias, sobretudo de Pessoas com deficiência. Iniciou suas colaborações com a LUME em 2023. Sua coluna pode ser lida quinzenalmente, ou quase…

