Morte de William Jones Faramilio da Silva Junior e de Anderbal Campos Bernardo Junior completa um ano; delegado quer arquivar o caso

Na foto em destaque, Anderbal (à esquerda) e William (à direita)

Nelson Bortolin

No último dia 6 de maio, a família de Willian Jones Faramilio da Silva Junior fez um protesto no mesmo local onde, exatamente um ano antes, o jovem de 18 anos havia sido morto pela Polícia Militar. Na marginal da PR 445 – próximo aos campos de futebol da UEL -, ele e os amigos Anderbal Campos Bernardo Junior, 21 anos, e Bruno Vinicius Orcioli Luchtenberg, 23 anos, foram abordados por uma viatura e receberam dezenas de tiros. Só Bruno sobreviveu.

As versões para o caso dadas pela PM e pelo sobrevivente são completamente diferentes. Segundo boletim de ocorrência, a equipe da Choque, acionada pela P2, abordou o carro com sirene e giroflex ligados e deu ordem para os ocupantes saírem com as mãos na cabeça. No entanto, os três teriam sacado armas de fogo e apontado para os policiais, que reagiram.

“Diante da grave ameaça contra a integridade física da guarnição, foram efetuados disparos de arma de fogo para cessar a iminente agressão”, diz o boletim de ocorrência. Mesmo baleados, os jovens, na versão da polícia, teriam saído do veículo com as armas em mãos apontando novamente para os policiais e tentado fugir. “Assim, novamente os policiais efetuaram disparos para cessar injusta e atual agressão…”

Depois de recuperado dos sete tiros que levou e da internação na Santa Casa, o sobrevivente Bruno Vinicius Orcioli Luchtenberg contou uma história bem diferente à Polícia Civil. Disse que os três teriam saído da casa do amigo Mateus Furquino, no Parque Universitário (zona oeste) em direção ao Shopping Catuaí.

Anderbal dirigia o Cruze, William estava na frente, no banco do passageiro, e Bruno, atrás.

Num sinaleiro, perto dos Correios, na PR 445, eles viram um carro da Choque pelo retrovisor, mas continuaram em direção ao shopping. Quando chegaram em frente à UEL, Anderbal teria dito que iria dar passagem para a polícia. “Eles emparelharam e começaram a disparar, sem dar sinal de sirene, nem nada”, contou Bruno em depoimento.

O policial que estava na frente da viatura da Choque teria atirado com fuzil e o de trás, com uma pistola. “Começaram a atirar sem sair do carro.”

Já baleados, ele e William teriam aberto as portas e se jogado no chão. “Como a viatura estava parada muito perto de nós, foi como tiro à queima roupa. O Anderbal morreu na hora. Tomamos tanto tiro. Não tínhamos força para ficar em pé”.

De acordo com Bruno, quando os policiais perceberam que ele estava vivo, começaram a xingar. “Disseram que não iam chamar o Samu. Que meus amigos já tinham morrido, que eu ia ficar agonizando até morrer.”

Num determinado momento, os policias tiraram armas de dentro da viatura para plantá-las na cena do crime. “Pegaram dois revólveres e uma pistola e jogaram um revólver no banco de trás e um no banco da frente do carro. A pistola, eles encostaram na minha perna. Eu nunca toquei naquela arma. Se fizessem um exame iriam ver que não tem nenhuma digital minha.”

Na sequência, teriam chegado outra viatura e carros de curiosos e da imprensa. “Pegaram as armas de dentro do Cruze e a que estava perto de mim e mostraram para os outros policiais que estavam chegando, mentindo que tinham encontrado as armas com a gente.”

Ainda quando estavam sozinhos no local, segundo Bruno, a equipe da Choque tirou Anderbal já morto de dentro do carro e o jogou no mato para simular que ele havia reagido e tentado fugir.

Quando o Samu chegou, a equipe encontrou Bruno com vida. Ele foi levado à Santa Casa e, apesar dos sete tiros, conseguiu sobreviver.  

Para o jovem, não é possível que as pessoas acreditem que, de fato, houve reação. “Você acha que, mesmo que tivéssemos armados, nós três teríamos coragem de enfrentar a Choque?”, questiona.

Bruno também disse que, caso soubesse que o carro era roubado, jamais entraria nele. Anderbal teria dito a ele que havia ganhado o Cruze da mãe. “Se eu soubesse eu não iria colocar minha vida em risco.”

Bruno foi preso e respondeu processo por receptação, adulteração de placa de carro, crime de resistência e por porte ilegal de arma de fogo. Segundo seu advogado, Mauro Martins, ele já foi absolvido de todas as acusações.

Em depoimentos, os policiais disseram que os jovens tinham várias passagens, mas, na verdade, dos três, só Anderbal era fichado por contrabando de cigarro.

Leia também:

Testemunha diz que amigos estavam desarmados

Delegado decide que policiais são inocentes

Um ano de sofrimento

A Lume faz jornalismo independente em Londrina e precisa do seu apoio. Curta, compartilhe nosso conteúdo e, quando sobrar uma graninha, fortaleça nossa caminhada pelo PIX (Chave CNPJ: 31.330.750/0001-55). Se preferir contribuir com um valor mensal, participe da nossa campanha no Apoia-se https://apoia.se/lume-se.

Deixe uma resposta

Descubra mais sobre Rede Lume de Jornalistas

Assine agora mesmo para continuar lendo e ter acesso ao arquivo completo.

Continue reading