Por Vinícius Fonseca*
Acredito que em razão da coluna algumas pessoas têm compartilhado comigo vídeos e textos sobre inclusão. Não sei ao certo se querem minha opinião ou imaginam que possa ser um tema a se trabalhar no próximo texto.
Eu sou muito grato por esses compartilhamentos, espero que continuem. Vários deles me colocam a refletir sobre diversos assuntos acerca das pessoas com deficiência (PCDs) e o que enfrentamos diariamente na nossa busca por um lugar, uma voz na sociedade.
O último material e sobre esse quero comentar, foi um texto publicada no UOL e trazia uma pesquisa cujo resultado não é surpreendente, porém incômodo: 60% das pessoas com deficiência nunca foram promovidas, diz o levantamento.
A partir de 100 funcionários a empresa deve ter em seu quadro de 1 a 5% de trabalhadores com algum tipo de deficiência. Esse direito nos é assegurado por lei, bem como a necessidade de a pessoa com deficiência só ser substituída, em caso de demissão, por outra pessoa com deficiência.
Quanto a isso há duas possibilidades de leitura: a primeira é que, obrigatoriamente, os PCDs serão contratados e estarão seguros, uma vez que só podem ser substituídos por alguém com deficiência, não tendo que passar, entre aspas, por um crivo preconceituoso de ser trocado por alguém sem deficiência e que em teoria, (preconceituosa), possa render mais.
O outro jeito de enxergar é, ao que parece, o mais comum para as empresas: “ok! Vamos cumprir a lei e contratar pessoas com deficiência, mas como só posso substituir por alguém em igualdade de condições com ela, vamos contratar para cargos inferiores, (auxiliares, assistentes e no máximo, analistas Junior), assim fica mais fácil a reposição”.
O que acontece é que ao adotar esse “cuidado” as empresas colocam PCDs, por mais preparados acadêmica e profissionalmente que estejam, em cargos de baixos salários. Agora some isso ao fato de 60% deles nunca terem sido promovidos? Entendem onde quero chegar? O profissional com deficiência se vê obrigado a ganhar pouco se quiser ter uma oportunidade no mercado de trabalho.
Eu faço parte dos 40% e já fui promovido em três empresas diferentes, no entanto, não posso achar que em razão da minha vivência, não há motivos para me preocupar.
O dado de que 60% nunca foram promovidos é muito preocupante sim! Ainda mais porque quando você é promovido as empresas amam te apresentar como um “case de sucesso” entre os colaboradores com deficiência e das políticas de diversidade e igualdade da organização.
“Nós temos o fulano e ele foi promovido porque aqui todos têm oportunidade”.
Eu agradeço as chances que me deram, mas não quero ser bandeira de inclusão das empresas, eu quero ser um profissional respeitado pela minha capacidade de contribuir com a vida em sociedade. E quero que outras pessoas com deficiência tenham isso também, sendo promovidas e tendo a chance de desfrutarem de bons salários e uma vida digna!
Vinícius Fonseca é pessoa com deficiência, jornalista, tecnólogo em gestão de Recursos Humanos com especialização em assessoria em Comunicação e M.B.A. em Gestão de pessoas. Também é escritor de poesias e contos, além de um eterno curioso.
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