Por Vinícius Fonseca*
Na última coluna falei sobre as dificuldades da pessoa com deficiência (PCD) com relação ao acesso, a permanência e, por fim, a ter uma educação completa, com relação às pessoas sem deficiência.
Acredito ter ficado claro que, embora eu procure manter o otimismo quanto aos avanços de nós, PCDs, uma vida e sociedade mais inclusivas, ainda há um longo caminho a se percorrer e a igualdade, tão sonhada por mim e tantos de nós, ainda sofre com a dura realidade que enfrentamos.
E se temos dificuldade em concluir nossa vida educacional e, por consequência, acadêmica é óbvio pensar também que isso impactará nos nossos ganhos financeiros futuros. Mas, mais do que um raciocínio lógico, é possível perceber, utilizando dados da mesma pesquisa presente na última coluna, que essa impressão é verdadeira. De acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD), enquanto o rendimento médio real do trabalho é de R$ 1.860 em nível nacional, o das pessoas sem deficiência é de R$ 2.690.
Lembrando que os dados da pesquisa são base para o Censo 2022.

Também óbvio, mas sempre bom lembrar: por serem dados de média, há regiões que pagarão salários um pouco maiores e também menores no País. Outro direcionamento apontado pela pesquisa é a maior dificuldade que a pessoa com deficiência tem em se colocar no mercado. Entre nós PCDs a taxa de ocupação é de apenas 26,6% contra 60,7% entre a população total brasileira. Vale lembrar que somos cerca de 18,6 milhões de PCDs espalhados em todo o País.
Ter acesso a esses números é importante para pensarmos em como enxergamos a pessoa com deficiência no mercado de trabalho e também para derrubarmos alguns mitos, enquanto ansiamos e lutamos por uma sociedade mais justa.
O primeiro mito é de que a lei de inclusão facilita a vida da pessoa com deficiência quando se trata de conseguir o emprego. O segundo mito é que, por precisarem de pessoas com deficiência em seu quadro de funcionários, as empresas paguem salários mais altos que os convencionais.
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A lei de inclusão é fundamental para nós PCDs, sem ela o cenário que já é difícil, provavelmente nem existiria. Se com a força da lei já temos dificuldade de nos “encaixar”, imagina o que seríamos sem ela? Apesar disso, no entanto, fica clara a urgência em melhorarmos os mecanismos, sobretudo de fiscalização, para assegurar um maior número de postos de trabalho para pessoas com deficiência.
O segundo mito, de que ganharíamos mais, também cai por terra. É verdade que nosso País tem muita desigualdade socioeconômica e como estamos constituídos promove ainda mais esse cenário temerário para quem ainda sonha com uma sociedade mais justa. O que a pesquisa mostra, diferente do que alguns defendem, é que os PCDs também são vítimas dessa promoção da desigualdade.
Some-se a isso o fato de que pessoas com deficiência, a depender de suas limitações, necessitem e tenham mais gastos com cuidados médicos.
Imaginem agora que a ausência ou a pouca educação prejudicam o acesso a renda e que mesmo devidamente educados a renda será menor, em um País que historicamente paga ao trabalhador menos do que ele precisa para sobreviver. Definitivamente não é exagero dizer que o sonho da igualdade vive a levar um duro choque de realidade por aqui.
*Vinícius Fonseca é jornalista e tecnólogo em gestão de recursos humanos com especializações nas áreas de comunicação, gestão e pessoas e educação. Também é escritor de contos e poesia, além de um entusiasta das temáticas relacionadas à inclusão de minorias, sobretudo de Pessoas com deficiência. Iniciou suas colaborações com a LUME em 2023. Sua coluna pode ser lida quinzenalmente.



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