Menina de 13 anos foi empurrada por homem branco quando entregava panfletos, no Calçadão de Londrina, em defesa dos direitos das mulheres

Cecília França

Uma adolescente de 13 anos, negra, foi agredida ontem (8) no Calçadão de Londrina durante ato da Frente Feminista alusivo ao Dia Internacional da Mulher. Segundo relato da trancista Rita de Cássia Araújo da Silva, vizinha e considerada mãe pela menina, elas panfletavam nas proximidades da loja Marisa quando a adolescente se aproximou de um grupo de mulheres que ouvia um homem, descrito como “alto e branco”, tocar violão.

“Ela foi lá entregar o panfleto para essas mulheres, esperou ele terminar de tocar, para depois entregar. Aí o cara, sem mais nem menos, simplesmente bateu no peito dela, deu um empurrão que tirou o ar dela e falou ‘Sai daqui, moleque’. Ela chegou chorando perto de mim, eu perguntei o que tinha acontecido e ela falava que estava estava doendo”, conta.

Rita diz que foi tirar satisfação com o agressor. “Eu agredi ele sim, bastante, porque eu não deixo barato, eu não abaixo a cabeça”, afirma. A trancista e outras participantes levaram a menina para outro local, a fim de acalmá-la, e quando Rita retornou ao Calçadão já não encontrou mais o agressor, que teria entrado em discussão também com outras mulheres.

“Ele falou para todo mundo que era da CMTU, que ia me denunciar. Falou que bateu mesmo, que bateria de novo e quando a gente foi atrás dele, ele já não estava mais na redondeza”, diz Rita.

A trancista Rita de Cássia/Filipe Barbosa

Segundo pessoas que presenciaram a agressão, o homem teria mostrado um crachá onde se lia “Cunha”. A assessoria da Companhia Municipal de Trânsito e Urbanização afirma não existir registro de nenhum funcionário com esse nome nos quadros da companhia.

A trancista diz não entender o que motivou a irritação do agressor, mas aponta algumas possibilidades, como racismo e questões de gênero. “Não sei ao certo, mas ele a chamou de moleque, talvez pela aparência dela ele achou que fosse um garoto importunando, não sei. Mas não justifica a agressão, ela só tem 13 anos, foi educada com todos a todo momento”, afirma.

Sobre racismo, Rita comenta: “Ela é negra, estava com trajes masculinos, cabelo com tranças rastafari; ele é branco, estava cantando músicas evangélicas”.

Rita pretende formalizar a denúncia ainda na tarde desta quinta-feira, com registro de Boletim de Ocorrência. Ela conta que foi a primeira vez que as duas participaram de um ato desse tipo.

“Primeira vez que a gente vai para um ato, para tentar fazer parte de um grupo. A gente saiu para a rua justamente para lutar contra isso e foi justamente o que aconteceu. Ela foi agredida sem mais nem menos. Eu sou estourada, não admito mesmo um homem bater numa mulher. Muito menos numa criança de 13 anos”.

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2 respostas para “Homem agride adolescente negra em ato do 8M”

  1. Eu adorei a matéria,importante a gente mostrar que não estamos em paz em nenhum lugar,e nenhum momento,saímos para rua para lutar e provamos contra o que lutamos publicamente. Obrigado pela importancia que nos deu nesse momento.

    1. Temos que dar viabilidade mesmo, Rita. Parabéns pela força de vocês em denunciar

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